Para quem conhece a biografia de Torga, não é difícil fazer uma analogia entre Vicente e o autor, chegando à conclusão que o Corvo funciona como seu alter-ego, ou seja: esse ser rebelde, desobediente, ousado e corajoso, que ousa desafiar os deuses e cuja voz se ergue altiva, obstinada e rebelde em defesa da sua liberdade. Voz que se assume como a voz dos demais oprimidos que não possuem a coragem e a ousadia suficientes para se rebelarem contra seus opressores.
No conto, Torga intertextualizou o episódio bíblico do dilúvio, adaptando-o à mensagem que desejava comunicar. Assim, em lugar da pomba, fez do corvo o protagonista de sua história. Este, após quarenta dias preso na arca de Noé, estava extenuado, inquieto, tenso e tomado de indignação com Deus, que ordenara aquela prisão e punia os animais inocentes pelos pecados dos homens: «Que tinham que ver os bichos com as fornicações dos homens?» –, Vicente abriu as asas e partiu. Todos os outros animais ficaram pasmados com a ousadia do corvo. «O seu gesto foi naquele momento o símbolo da universal libertação».
Considerando o sentido alegórico deste conto, fica evidente a mensagem do seu autor, segundo a qual o homem não deve sentir medo quando batalha por uma causa ou por um ideal que acha pertinentes e legítimos. Na polaridade submissão/rebeldia, o corvo Vicente funciona como uma representação do homem rebelde, destemido, que não aceita a coação e a intimidação por parte de nenhum déspota que se julgue com o direito de subjugá-lo, daí defender até as últimas conseqüências seu direito de ser livre.
O conto, como não poderia deixar de ser, termina com a vitória de Vicente, o corvo rebelde que no dilúvio universal não teve medo e ousou abandonar a arca de Noé, tornando-se autônomo relativamente ao próprio Criador. Se este lhe dera o direito de nascer livre e de viver em liberdade, não tinha o direito de penalizá-lo por sua opção de evadir-se:
“Três vezes uma onda alta, num arranco de fim, lambeu as garras do corvo, mas três vezes recuou. A cada vaga, o coração frágil da Arca, dependente do coração resoluto de Vicente, estremeceu de terror. A morte temia a morte.
Mas em breve se tornou evidente que o Senhor ia ceder. Que nada podia contra aquela vontade inabalável de ser livre.
Que para salvar a sua própria obra, fechava, melancolicamente, as comportas do céu”. (Bichos, 1987 p. 133).
Torga viveu e sofreu durante os anos de ditadura e repressão em Portugal. Todavia, não deixou de ser um defensor da liberdade individual. Sua rebeldia, sua obstinação em seguir seus próprios valores ideológicos, sua intrepidez em relação à opressão por parte dos poderosos, estão evidentes em grande parte de sua obra. O desfecho da luta entre Vicente e o “Criador”, com a vitória do Corvo, reforça a idéia de que é válida toda luta pela liberdade, desde que seja sustentada por uma “vontade inabalável de ser livre”.
No conto, Torga intertextualizou o episódio bíblico do dilúvio, adaptando-o à mensagem que desejava comunicar. Assim, em lugar da pomba, fez do corvo o protagonista de sua história. Este, após quarenta dias preso na arca de Noé, estava extenuado, inquieto, tenso e tomado de indignação com Deus, que ordenara aquela prisão e punia os animais inocentes pelos pecados dos homens: «Que tinham que ver os bichos com as fornicações dos homens?» –, Vicente abriu as asas e partiu. Todos os outros animais ficaram pasmados com a ousadia do corvo. «O seu gesto foi naquele momento o símbolo da universal libertação».
Considerando o sentido alegórico deste conto, fica evidente a mensagem do seu autor, segundo a qual o homem não deve sentir medo quando batalha por uma causa ou por um ideal que acha pertinentes e legítimos. Na polaridade submissão/rebeldia, o corvo Vicente funciona como uma representação do homem rebelde, destemido, que não aceita a coação e a intimidação por parte de nenhum déspota que se julgue com o direito de subjugá-lo, daí defender até as últimas conseqüências seu direito de ser livre.
O conto, como não poderia deixar de ser, termina com a vitória de Vicente, o corvo rebelde que no dilúvio universal não teve medo e ousou abandonar a arca de Noé, tornando-se autônomo relativamente ao próprio Criador. Se este lhe dera o direito de nascer livre e de viver em liberdade, não tinha o direito de penalizá-lo por sua opção de evadir-se:
“Três vezes uma onda alta, num arranco de fim, lambeu as garras do corvo, mas três vezes recuou. A cada vaga, o coração frágil da Arca, dependente do coração resoluto de Vicente, estremeceu de terror. A morte temia a morte.
Mas em breve se tornou evidente que o Senhor ia ceder. Que nada podia contra aquela vontade inabalável de ser livre.
Que para salvar a sua própria obra, fechava, melancolicamente, as comportas do céu”. (Bichos, 1987 p. 133).
Torga viveu e sofreu durante os anos de ditadura e repressão em Portugal. Todavia, não deixou de ser um defensor da liberdade individual. Sua rebeldia, sua obstinação em seguir seus próprios valores ideológicos, sua intrepidez em relação à opressão por parte dos poderosos, estão evidentes em grande parte de sua obra. O desfecho da luta entre Vicente e o “Criador”, com a vitória do Corvo, reforça a idéia de que é válida toda luta pela liberdade, desde que seja sustentada por uma “vontade inabalável de ser livre”.
Zenóbia Collares Moreira.
2 comentários:
Hi, I am Thomas Gittins from Cornell University. Glad to read your blog.
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