Ao longo da sua obra Maria Judite denuncia a ausência de sentido, de significação do mundo, desenhado por ela, nunca como uma estância de felicidade e harmonia, mas sim como um lugar inóspito, pesado, no qual cada pessoa carrega o fardo da solidão, sempre subjugada às leis tirânicas estabelecidas pela engrenagem social, como se fossem uma prisão. Aquele que ousa recusar os valores sociais estabelecidos terá que arcar com as conseqüências dolorosas de ser ignorado ou aniquilado pelo grupo social.
É sob este ponto de vista que Maria Judite de Carvalho questiona, em alguns valores da sociedade burguesa dos anos sessenta do século XX: o casamento, a família, os costumes sociais e a condição feminina.
Joana, a personagem central da narrativa já passou dos trinta anos, é uma moça solteira que, segundo os costumes da época, já passou da idade de se casar. Ela sofre a angústia de sua situação de solteirona e, como tal, sem um lugar definido no grupo social, condizente com as expectativas de todos em relação a sua pessoa.
Para as mulheres da classe média que viveram até a década de sessenta do século XX, como Joana, a opção que lhe era dada reduzia-se ao casamento, considerado o único destino digno para a mulher, no qual exerceria seu papel de esposa, mãe e dona de casa, realizando o que a família esperava da mulher solteira. O casamento significava segurança e a chance de ter uma posição definida e prestigiada. Assim sendo, ficar solteira era a máxima infelicidade para as mulheres. A sociedade era cruel com as solteironas a quem dispensava uma espécie de disfarçada marginalização, quando não eram o alvo de zombarias ou dos olhares de piedade.. Seu destino era a solidão.
Joana, personagem deste conto, é uma mulher feia, que já passou da idade de arranjar marido e tem poucas chances de encontrar um noivo. Ela sabe não tem beleza nem atrativos e decide levar uma vida reclusa na casa dos pais que a sustentam. O pai é arrogante e autoritário, a mãe é submissa e cumpre o seu papel de esposa e dona de casa à risca. O irmão, diferentemente de Joana, tem direito a todos os privilégios que a sociedade permite aos filhos do sexo masculino, cuja educação especial assegurar-lhe exibir um ar superioridade em relação às mulheres.
Joana, na estreiteza de seu pequeno mundo, sente-se distante de cada um deles, de suas pequenas ambições e invejas mesquinhas, emparedada na sua solidão, relegada a segundo plano no seio da família por sua condição de moça solteira, já não muito jovem, a quem nenhum papel, nenhum rótulo coubera até então:
É sob este ponto de vista que Maria Judite de Carvalho questiona, em alguns valores da sociedade burguesa dos anos sessenta do século XX: o casamento, a família, os costumes sociais e a condição feminina.
Joana, a personagem central da narrativa já passou dos trinta anos, é uma moça solteira que, segundo os costumes da época, já passou da idade de se casar. Ela sofre a angústia de sua situação de solteirona e, como tal, sem um lugar definido no grupo social, condizente com as expectativas de todos em relação a sua pessoa.
Para as mulheres da classe média que viveram até a década de sessenta do século XX, como Joana, a opção que lhe era dada reduzia-se ao casamento, considerado o único destino digno para a mulher, no qual exerceria seu papel de esposa, mãe e dona de casa, realizando o que a família esperava da mulher solteira. O casamento significava segurança e a chance de ter uma posição definida e prestigiada. Assim sendo, ficar solteira era a máxima infelicidade para as mulheres. A sociedade era cruel com as solteironas a quem dispensava uma espécie de disfarçada marginalização, quando não eram o alvo de zombarias ou dos olhares de piedade.. Seu destino era a solidão.
Joana, personagem deste conto, é uma mulher feia, que já passou da idade de arranjar marido e tem poucas chances de encontrar um noivo. Ela sabe não tem beleza nem atrativos e decide levar uma vida reclusa na casa dos pais que a sustentam. O pai é arrogante e autoritário, a mãe é submissa e cumpre o seu papel de esposa e dona de casa à risca. O irmão, diferentemente de Joana, tem direito a todos os privilégios que a sociedade permite aos filhos do sexo masculino, cuja educação especial assegurar-lhe exibir um ar superioridade em relação às mulheres.
Joana, na estreiteza de seu pequeno mundo, sente-se distante de cada um deles, de suas pequenas ambições e invejas mesquinhas, emparedada na sua solidão, relegada a segundo plano no seio da família por sua condição de moça solteira, já não muito jovem, a quem nenhum papel, nenhum rótulo coubera até então:
"Filha deles? Irmã do irmão? Quando pensava nisso parecia-lhe ter nascido de si própria, sem laços que a unissem a ninguém (...)
Não os detestava, nem isso, simplesmente eles não a interessavam. Sentia-se longe, sozinha no mundo, sozinha em parte alguma".
O surgimento de um pretendente à mão de Joana vem abalar a mesmice, a aparente tranqüilidade desse lar burguês. Abre-se para Joana a possibilidade de conquistar um lugar definido, de tornar-se, ela também, “boa esposa, boa mãe”, assumindo, assim, o papel que lhe cabe representar, ocupando o seu “lugar marcado”. Tanto que ela nunca se pusera o problema de saber se o amava verdadeiramente. Daí o terror de perdê-lo por um rompimento e recair na situação anterior, na indefinição e no vazio:
"Mas a pouco e pouco, as grades que havia meses tinham caído apareciam de novo à sua volta. Via outra vez coisas perdidas e reencontradas. A sua carinha de coelho, por exemplo, já com trinta anos, o seu corpo desengraçado, ouvia a sua voz fazer a si própria perguntas a que se recusava a dar resposta. Tinha uma grande vontade de chorar, e todas as manhãs pensava, aterrorizada, se seria neste dia".
A morte súbita do noivo, vítima de afogamento, proporciona à Joana uma súbita revelação de que estava no limiar de sua sonhada libertação. Após ler a notícia da morte do noivo no jornal, Joana foi invadida por uma profunda serenidade:
"Toda a angústia desapareceu. Já não receava nada, já não ia acordar todas as manhãs a pensar que talvez tudo fosse terminar antes da noite. Sentia essa calma no rosto que não via, nas mãos quietas, na voz que lhe saía direta, quase rígida. A serenidade que ele lhe negara! Apetecia-lhe sorrir mesmo sem estar alegre, sorrir precisamente porque estava triste. Sorrir à mãe quando ela entrasse com os trapos pretos que nunca mais havia de despir. Sorrir ao pai, ao irmão, às amigas que tinham acabado de descer a escada, sorrir a toda gente. Era de súbito outra pessoa. A noiva inconsolável do homem que morrera".
Após essa experiência reveladora, Joana começa a experienciar uma profunda transformação interior que a torna uma pessoa segura, determinada, firme, confiante e serena: nada mais lhe resta da Joana anterior, insegura, arredia, entregue à solidão. Depois da morte do noivo ela é outra pessoa, completamente diferente da que fora. Ela passa a fazer parte do mesmo mundo de sua mãe, do seu pai, do seu irmão e das suas amigas. Ela, enfim encontrou o seu lugar marcado: o lugar de Noiva Inconsolável do homem que morrera.
A morte do noivo traz um novo sentido à vida de Joana, na medida em que lhe ensejou uma radical inversão de valores que a leva a assumir a máscara da “noiva inconsolável”, depois da morte do noivo. Paradoxalmente, a morte do noivo conduziu Joana à tranqüilidade, ao equilíbrio e à recriação da realidade, que tornou possível a felicidade
O ponto forte da crítica de Maria Judite de Carvalho é alicerçado pela IRONIA, usada com muita habilidade pela autora como questionamento acerca de um sistema de valores da época (anos 60), caracterizado pela vulgaridade e falsidade das pessoas. Através de Joana, a autora vai apontando a falsidade e a hipocrisia prevalescentes nas relações sociais com a família, com as amigas, com o noivo.
A ironia se estende ao próprio título do conto, pois apenas fingia que sentira a morte do noivo, na verdade a noiva não estava inconsolável. Ela se faz de inconsolável, mas o rótulo é pura encenação, é a máscara dolorosa para dar foro de autenticidade à saudade fingida do noivo e para um amor que não havia.
Joana substituiu o vestido branco de noiva pelo traje preto de viúva que vestiria até o fim da vida, voluntariamente, incorporando a personagem de si mesma que criou para representar no palco da vida social o romântico papel que lhe daria enorme visibilidade, prestigio e respeito.
Não os detestava, nem isso, simplesmente eles não a interessavam. Sentia-se longe, sozinha no mundo, sozinha em parte alguma".
O surgimento de um pretendente à mão de Joana vem abalar a mesmice, a aparente tranqüilidade desse lar burguês. Abre-se para Joana a possibilidade de conquistar um lugar definido, de tornar-se, ela também, “boa esposa, boa mãe”, assumindo, assim, o papel que lhe cabe representar, ocupando o seu “lugar marcado”. Tanto que ela nunca se pusera o problema de saber se o amava verdadeiramente. Daí o terror de perdê-lo por um rompimento e recair na situação anterior, na indefinição e no vazio:
"Mas a pouco e pouco, as grades que havia meses tinham caído apareciam de novo à sua volta. Via outra vez coisas perdidas e reencontradas. A sua carinha de coelho, por exemplo, já com trinta anos, o seu corpo desengraçado, ouvia a sua voz fazer a si própria perguntas a que se recusava a dar resposta. Tinha uma grande vontade de chorar, e todas as manhãs pensava, aterrorizada, se seria neste dia".
A morte súbita do noivo, vítima de afogamento, proporciona à Joana uma súbita revelação de que estava no limiar de sua sonhada libertação. Após ler a notícia da morte do noivo no jornal, Joana foi invadida por uma profunda serenidade:
"Toda a angústia desapareceu. Já não receava nada, já não ia acordar todas as manhãs a pensar que talvez tudo fosse terminar antes da noite. Sentia essa calma no rosto que não via, nas mãos quietas, na voz que lhe saía direta, quase rígida. A serenidade que ele lhe negara! Apetecia-lhe sorrir mesmo sem estar alegre, sorrir precisamente porque estava triste. Sorrir à mãe quando ela entrasse com os trapos pretos que nunca mais havia de despir. Sorrir ao pai, ao irmão, às amigas que tinham acabado de descer a escada, sorrir a toda gente. Era de súbito outra pessoa. A noiva inconsolável do homem que morrera".
Após essa experiência reveladora, Joana começa a experienciar uma profunda transformação interior que a torna uma pessoa segura, determinada, firme, confiante e serena: nada mais lhe resta da Joana anterior, insegura, arredia, entregue à solidão. Depois da morte do noivo ela é outra pessoa, completamente diferente da que fora. Ela passa a fazer parte do mesmo mundo de sua mãe, do seu pai, do seu irmão e das suas amigas. Ela, enfim encontrou o seu lugar marcado: o lugar de Noiva Inconsolável do homem que morrera.
A morte do noivo traz um novo sentido à vida de Joana, na medida em que lhe ensejou uma radical inversão de valores que a leva a assumir a máscara da “noiva inconsolável”, depois da morte do noivo. Paradoxalmente, a morte do noivo conduziu Joana à tranqüilidade, ao equilíbrio e à recriação da realidade, que tornou possível a felicidade
O ponto forte da crítica de Maria Judite de Carvalho é alicerçado pela IRONIA, usada com muita habilidade pela autora como questionamento acerca de um sistema de valores da época (anos 60), caracterizado pela vulgaridade e falsidade das pessoas. Através de Joana, a autora vai apontando a falsidade e a hipocrisia prevalescentes nas relações sociais com a família, com as amigas, com o noivo.
A ironia se estende ao próprio título do conto, pois apenas fingia que sentira a morte do noivo, na verdade a noiva não estava inconsolável. Ela se faz de inconsolável, mas o rótulo é pura encenação, é a máscara dolorosa para dar foro de autenticidade à saudade fingida do noivo e para um amor que não havia.
Joana substituiu o vestido branco de noiva pelo traje preto de viúva que vestiria até o fim da vida, voluntariamente, incorporando a personagem de si mesma que criou para representar no palco da vida social o romântico papel que lhe daria enorme visibilidade, prestigio e respeito.
2 comentários:
Oi eu sou Scott Lee, analista, consultor, palestrante, estrategista e escritor sobre temas relacionados com tecnologia de conteúdo digital.
Post interessante!
pumps
Oi eu sou Scott Lee, analista, consultor, palestrante, estrategista e escritor sobre temas relacionados com tecnologia de conteúdo digital.
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