A narrativa vergiliana se afirma como uma crítica mordaz à sociedade, veiculada por uma história de cunho moralizante, que se desenvolve como uma alegoria do comportamento humano. Uma insignificante galinha exemplifica o quanto um motivo sem importância, fútil e sem gravidade pode fazer vir à tona todo os ódios, rancores, desejos de revanchismos e de ajustes de contas, além de outros sentimentos mesquinhos como a avareza, a inveja e a cobiça, adormecidos nos habitantes de pequenas comunidades, prontos para explodir.
Apesar da tragicidade macabra da história, na qual muitos são mortos e outros tantos são feridos, o espírito cômico e a sutileza irônica vergilianos permeiam toda a narrativa.
A “Tia”, invejosa, mesquinha e desaforada, funciona como agente desencadeador da polêmica e da escandalosa confusão que leva a aldeia a uma situação caótica, derivada do escândalo promovido pela “Tia”, em torna das duas galinhas. O conflito, iniciado pelas quatro personagens diretamente envolvidas na querela (o pai, a mãe, o tio e a tia do narrador-personagem), logo se estendem aos demais habitantes da aldeia, na medida em que provocam o ressurgimento de antigas animosidades, ódios, invejas que passam a comandar as cobranças e os ajustes de contas reprimidos e adiados por cada um. É inevitável o efeito dominó de cada batalha sangrenta que se repete, dizimando os habitantes do lugar.
O veio cômico e a sutil dose de humor negro, típico do estilo vergiliano, dão um toque de leveza à tragicidade que invade a aldeia, tornada o palco da explosiva violência, causadora das brigas e das mortes resultantes do tal ajuste de contas, narrado de forma leve e risível.
Não obstante a comicidade do relato, o conto cumpre a sua intencionalidade de fazer crítica social, ao revelar a existência de sentimentos sórdidos que se mascaram como ações aparentemente bem intencionadas, apontando para a possibilidade da presença de tais sentimentos em qualquer pessoa, considerando que fazem parte da natureza humana.
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Zenóbia Collares Moreira Cunha
Um comentário:
Obrigada por postar. Eu tive um trabalho na escola sobre esse conto, me ajudou muito!
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