Um rapaz de dezesseis anos e uma moça de dezessete, colegas de escola sem amizade, um dia se sentiram ligados um ao outro porque ela disse que sentia angústia e ele também.
O assunto do conto é a história de uma relação entre dois adolescentes e do despertar destes para a vida e para a maturidade. Todo o percurso é marcado pelo temacexistencialista da angústia e da náusea, pela insatisfação, pela busca de um sentido para as coisas, pela insegurança e perplexidade.
O narrador é muito semelhante ao do conto “Os Obedientes”, ou seja: omnisciente, totalmente conhecedor das personagens e das suas motivações mais íntimas, embora pouco dado a reflexões partilhadas com o leitor como acontecia naquele.
O ponto de partida que dominamtodomo conto quase até ao final, é, como já foi dito, o tema da angústia. Esta começa por ser o objeto de conversa entre os dois jovens e o indicador que os distingue como pessoas que falam sobre coisas que realmente importam. A descoberta de que a moça também sente angústia leva o rapaz a corar e a sentir-se surpreso e maravilhado sobretudo devido ao fato de ela ser uma moça.
É a angústia que marca a afinidade entre as duas personagens, embora através do rapaz se assinale sempre a dúvida em relação à sensibilidade da moça/mulher.
A vergonha do sexo oposto marca frequentemente o início da adolescência. Então é mais fácil encarar o outro como um ser do mesmo sexo. Ele passou a tratá-la como camarada. A partir de então se tornaram íntimos. Intimidade que não significava sexo nem amor. Eles se sentiram ligados porque ambos queriam ser autênticos, sinceros, diferentes dos outros. Não se viam como homem e mulher, mas como dois seres angustiados, à procura de algo que eles não sabiam o que fosse. Vagamente, confusamente, achavam-se portadores de uma mensagem. Mas o que era isso?
Saindo do colégio no último dia letivo, os dois caminhavam numa rua próxima do Cemitério S. João Batista, no Rio. A calçada era estreita e os ônibus passavam rentes. De repente, os dois se viram colados a uma casa velha. Pararam diante dela, olharam para a fachada. Em seu íntimo cada um foi se descobrindo ali, parados: ele era apenas um rapaz e ela, uma moça. Não tinham mais o que se dizer e por que continuarem juntos. Ela despediu-se, correu para um ônibus que estava parado. Entrou subindo como se fosse um macaco, pensou ele, vendo-a acomodar-se lá dentro.
A moça saíra envergonhada por se sentir mulher; o rapaz tinha acabado de nascer homem. “Mas, atolado no seu reino de homem, ele precisava dela. Para quê? (...) para não esquecer que eram feitos da mesma carne, essa carne podre da qual, ao subir no ônibus, como um macaco, ela parecia ter feito um caminho fatal.” O que estava acontecendo a ele naquele momento em que viu a moça entrar no ônibus daquele jeito? Nada! Apenas um instante de fraqueza e vacilação. Só que agora ele se sentia fraco para resistir ao que os outros tentavam ensinar-lhe para ser homem. “Mas e a mensagem?! a mensagem esfarelada na poeira que o vento arrastava para as grades do esgoto. Mamãe, disse ele.”
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